História da Família Sundfeld


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A viagem até o Brasil


Cais de Hamburgo - Século XIX

          No século XIX, as viagens marítimas transatlânticas eram feitas por meio de grandes veleiros que vinham sendo gradativamente substituídos pelos navios veleiro-vapores nas suas últimas décadas. Os veleiros tinham capacidade para até 200 passageiros e as viagens da Europa ao Brasil duravam em média cinco semanas, com todos os riscos e perigos que se pode imaginar - doenças, partos, comida precária, naufrágios... Já os navios veleiro-vapores, de maior porte, suportavam mais de 500 passageiros e a mesma viagem não passava de duas semanas, além de oferecer mais conforto e segurança. Tal privilégio tinha seu preço, naturalmente, sendo inacessível a grande parte dos viajantes.


Modelo de navio veleiro-vapor com 3 mastros e uma chaminé - 430 passageiros
Navio Rússia - 1867 - Rota New York/Liverpool

          Hamburgo destacava-se como um dos principais portos da Europa e seu movimento era enorme para os padrões daquela época. Os destinos das embarcações eram os mais variados, cobrindo praticamente todas as regiões do mundo. Linhas de tráfego regulares diretas e indiretas já haviam sido estabelecidas para diversos países, inclusive para o Brasil, cujos principais portos, Rio de Janeiro (RJ) e Santos (SP), já se apresentavam como as grandes portas do país. Nesses portos, além da movimentação de cargas, fruto da grande quantidade de importações e exportações (produtos alimentícios, como o café e açúcar, e produtos manufaturados, como ferramentas, vestuário e mobiliário), encontrava-se também o tráfego intenso de imigrantes que chegavam aos milhares da Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, dentre outros países, em busca de uma nova vida com esperanças de riquezas, alegrias e fartura.

          No que se refere a August C. Sundfeld e sua família, não se tem registro de datas, tipo de embarcação ou local de desembarque utilizados para vir ao Brasil. Os poucos dados obtidos sobre sua chegada estão registrados no livro "Contribuição à História Natural e Geral de Pirassununga" (Manuel Pereira de Godoy - 1975). Nele estão registrados os anos de chegada de diversas famílias estrangeiras a Pirassununga e algumas citações sobre rotas de tropeiros, que se serviam de equinos e muares, e carros-de-boi, que chegavam à cidade vindos da capital da província, São Paulo, e dos portos de Santos e Rio de Janeiro. Tais meios de transporte traziam novas famílias de imigrantes e produtos para o abastecimento dos moradores da região, além de levar mercadorias para serem vendidas na capital e/ou despachadas nos portos como produtos de exportação, nesse caso, destacando-se o café, que chegava a 1.500 toneladas por ano.

          As viagens feitas pelos imigrantes duravam algumas semanas, passando por estradas de terras precárias e, expostos a qualquer tipo de tempo, bem como às investidas de criminosos que focavam nas caravanas. As viagens eram feitas utilizando cavalos, burros, carroças, carroções e mesmo a pé.


Gravura de tropeiros transportando viajantes e cargas.

          Vale também citar que a linha férrea só chegaria à região em 1878, mas já se fazia presente na cidade de Rio Claro desde 1832, cerca de 50 km de Pirassununga. Entretanto, acredita-se que naquele tempo o custo das viagens por trens também eram inviável para a grande parte das famílias de imigrantes que, além de numerosas na maioria das vezes, chegavam ao país com pouco ou nenhum recurso para custear esse e outros tipos de despesas não prioritárias. Portanto, é muito provável que August e sua família tenham enfrentado as dificuldades das trilhas e caminhos com os únicos meios de transporte então disponíveis.

          Abaixo, segue um pequeno texto adaptado descrevendo alguns detalhes dessas viagens:

(...)

Milhares de famílias saíam de suas casas, talvez vendendo ou mesmo abandonando-as. Viajando em trens, carroças e até mesmo a pé, carregando todos os seus pertences, percorriam grandes distâncias até os portos para embarque. Com poucas informações sobre o Brasil, ou talvez, informações de que era uma terra promissora, mas selvagem, os emigrantes precaviam-se trazendo toda sorte de bagagens: utensílios domésticos, máquinas de costura, instrumentos musicais e de trabalho, relíquias de família e objetos que lembrassem sua terra natal. Geralmente não possuíam malas, e seus pertences eram transportados em sacos, sacolas e caixas improvisadas.

Os recursos para as passagens algumas vezes eram próprios, mas, na maioria das vezes, subsidiados pelo Governo da Província de São Paulo, no Brasil. Eram embarcados na terceira classe, geralmente localizada nos porões dos navios, e com lotação acima da capacidade. No final do século XIX as viagens já eram feitas em vapores, mais rápidos que os navios a vela, porém com péssimas instalações, pois geralmente eram navios de carga adaptados para o transporte de passageiros. A travessia do Atlântico era realizada entre 15 e 30 dias, e durante a viagem os imigrantes passavam por todos os tipos de situação, como nascimentos, enjoos, doenças, mortes, romances, comida de péssima qualidade, etc.

Chegavam, então, ao porto brasileiro, onde permaneciam algum tempo praticamente confinados, sendo objetos de negociações, intermediadas por intérpretes, entre os fazendeiros interessados ou seus prepostos e os colonos e suas famílias.

Não transcorria em melhores condições a viagem dos imigrantes do porto de desembarque no Brasil até a fazenda onde iriam trabalhar. As estradas eram precárias e o que se chamava de albergues para pernoitar não eram mais do que simples ranchos desabrigados. Embora a fazenda pudesse fornecer carros-de-boi ou tropas para o transporte dos colonos, não era raro terem que caminhar a pé, quando então as crianças, em grupos de 4, eram acomodadas em cestas que as mulas carregavam. Para os velhos e doentes também eram reservados animais ou carros-de-boi.

Como os imigrantes recebiam rações de alimentos durante a viagem, havia parada para as refeições, que eram preparadas por eles próprios. Geralmente eram compostas de carne, arroz, feijão, café, açúcar e toucinho. O preparo da comida exigia a busca de lenha e água, o que resultava em não pouco trabalho. À noite não era raro dormirem no chão, em leitos de folhas. Os mais afortunados traziam arranjos de cama, o que permitia relativo conforto. Havia fazendas que forneciam, à chegada, esses arranjos, bem como os bens necessários ao estabelecimento da família dos colonos. Claro que tudo era debitado em suas contas. Sem entender muito o que se passava, famintos e cansados, tomavam conhecimento do "regulamento da fazenda", do qual geralmente recebiam cópia. Esse documento tratava dos direitos e deveres de cada colono, compreendendo desde os negócios até os festejos.

(Fonte: Texto "História do Brasil - Os Imigrantes na lavoura cafeeira" - Autoria desconhecida)



Gravura de carros-de-boi para cargas


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